quinta-feira, 24 de abril de 2008

Quem és tu?

Grande parte da população teima em considerar que violência se reprime com violência. A começar pelos constantes espancamentos que sofrem assaltantes e pessoas em geral que cometem erros, e que a população assume como reponsabilidade própria o fazer justiça.

Duas frases pairam no ar.
- O homem é um ser social.
- Nossas ações refletem os nossos valores.

Durante a aula pela manhã, a professora falava (durante a aula de português, por que não?) sobre a banalização da violência. Dizia ela que hoje as pessoas estão assumindo a violência como algo normal, comum; e queria ela nunca chegar ao ponto de dizer que violência é algo normal.

Compartilho da mesma opinião; e mais, acredito piamente que só quando o mundo chegar à conclusão de que seres humanos têm direitos iguais e devem ser respeitados igualmente (e olha só o que diz a constituição, né? parece que esquecemos de entender o que foi lido) é que as coisas (odeio essa palavra), é que a vida irá melhorar.

Pois bem. Depois da aula peguei um ônibus para a Universidade. No meio do caminho... Hum... Seria uma pedra? Não!! Eram dois garotos. Dois garotos pobres. Dois garotos pobres e sem estudos. Dois garotos pobres, sem estudos e muita ância de viver bem, aliás, como todo mundo neste mundo. (percebeu a ênfase no "garotos" né?)

Esses garotos estavam conversando alto, cantando mais alto ainda, brincando um com o outro, soltando piadas em alto e bom (não tão bom) som. Até que em um momento, um passageiro, irritado com "as pedrinhas que atravessaram seu caminho no percurso do coletivo", avançou para um deles, deu-lhe um tapa (fortíssimo, posso afirmar por que eu estava bem perto deles) e gritou: "Você não vai calar a boca? Que coisa chata! Fica gritando e cantando o tempo todo! Cala a boca!".

O garoto quis chorar, mas engoliu o choro numa tentativa forçada de mostrar que era forte. O amigo, numa tentativa de consolá-lo, falou: "Joga uma pedra nesse velho".
Mais uma vez, o homem levantou-se e gritou ao mesmo menino de antes: "Você vai jogar uma pedra em quem? Hein?"
Ao que o menino: "Não, eu não vou jogar pedra em ninguém! Foi ele quem falou! Eu não disse nada!". O homem, inconformado, continuou gritando e mandou que os garotos descessem assim que o ônibus parou e por pouco, não os jogou fora (como pedras) com os empurrões que deu em um deles. O pior de tudo, se é que ainda podia ficar pior, foi o pessoal que estava no ônibus, que deu um olé à hipocrisia. Ficaram calados o tempo todo; mas, foi só "as pedrinhas do caminho" descerem, só faltaram aplaudir o homem. Teve outro que ainda comentou: "É assim mesmo, quando ele subir em outro ônibus vai pensar duas vezes antes de fazer baderna". Será?

Não entra na minha cabeça que esse comportanto agressivo e totalmente autoritário vá resolver situação alguma. Ao contrário, reforça ainda mais a condição de exclusão na qual estão inseridos esses jovens, que não pediram para nascer, mas que além disso, foram condenados a uma vida sofrida, cheia de preconceito e violência.
Sem educação não dá, como diria tantas vezes Cristovão Buarque em seus discursos no Senado. Mas eu acredito que o problema vai além da educação. Sem humanidade não dá. Sem ética, moral, solidariedade, resposabilidade social e... amor ao próximo também não.

3 comentários:

  1. O que me deixa mais indignado é a disparidade das reações. Todo mundo se mostra comovido quanto ao assassinato da Isabela Nardoni, que sem dúvida foi vil e brutal, mas aplaude atitudes como a desse senhor, esquecendo-se que não passam também de crianças. Crianças como Isabela. Mas sem a "sorte" (se é que pode-se usar esse termo nesse caso...) de Isabela de nascer em uma família de classe média. De qualquer forma o que fica patente é o quanto as crinaças estão disprotegidas, mesmo com tantos dispositivos legais que, supostamente, garantiriam seu bem-estar. Quantas Isabelas não têm sido mortas, diariamente, no país? Mortas pelo nosso descaso, hipocrisia e fata de bom-senso. Não só descaso com educação, mas, descaso para com a dignidade humana - na sua forma mais pura, as crianças.

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  2. Pior de tudo foi que no mesmo dia, enquanto voltava pra casa, aconteceu a mesma coisa.. Só que não com crianças.. mas com um homem que vende na orla e entrou no ônibus por trás.. depois de muita espera, ele desistiu de pegar o ônibus e começou a retirar as coisas.. Os passageiros se irritaram e começaram a xingá-lo de tudo o que não presta... A reação do cara foi jogar uma pedra no vidro do ônibus.
    Depois de tudo uns queria espancá-lo, mas o motorista fechou a porta e não deixou eles descerem...
    Fiquei pensando.. será que não tem a ver os dois acontecimentos? A sociedade exclui tanto, tem tanto preconceito, que de criança à adulto, chega uma hora em que o indíviduo explode e faz o que ele fez. Não é justificando... Mas, é meio aquela história: eu quero ter liberdade (posso te chamar do que eu quiser, te bater, te agredir), mas eu não quero que vc tenha nem liberdade nem opinião (nem pense em revidar).
    E depois o povo vem dizer que eu só dou voz a marginal e já tão me chamando até de "direitor humanos".. tenha pena...

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  3. Pior de tudo foi que no mesmo dia, enquanto voltava pra casa, aconteceu a mesma coisa.. Só que não com crianças.. mas com um homem que vende na orla e entrou no ônibus por trás.. depois de muita espera, ele desistiu de pegar o ônibus e começou a retirar as coisas.. Os passageiros se irritaram e começaram a xingá-lo de tudo o que não presta... A reação do cara foi jogar uma pedra no vidro do ônibus.
    Depois de tudo uns queria espancá-lo, mas o motorista fechou a porta e não deixou eles descerem...
    Fiquei pensando.. será que não tem a ver os dois acontecimentos? A sociedade exclui tanto, tem tanto preconceito, que de criança à adulto, chega uma hora em que o indíviduo explode e faz o que ele fez. Não é justificando... Mas, é meio aquela história: eu quero ter liberdade (posso te chamar do que eu quiser, te bater, te agredir), mas eu não quero que vc tenha nem liberdade nem opinião (nem pense em revidar).
    E depois o povo vem dizer que eu só dou voz a marginal e já tão me chamando até de "direitor humanos".. tenha pena...

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