segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A rua, a igreja e os meninos

Num canto da parede, dois meninos dormem encolhidos. Um pouco afastados um do outro, numa cena de dar dó. Passaram a noite ali ao relento, é possível. São sete e trinta da manhã. Em frente a eles, as pessoas passam, os carros passam, tudo passa, o mundo acorda.

Todo mundo está muito preocupado com os próprios problemas, não dá tempo de pensar no que vai acontecer àqueles dois. Ou mesmo, o que tem acontecido a eles nesses últimos dias. Vão acordar, não demora. Afinal, as lojas vão abrir as oito e ninguém pode atrapalhar as vendas por causa do sono de duas pobres criaturas.

O que irão comer? (...)

Ali ao lado, uma Igreja Universal do Reino de Deus – que poderia ser qualquer outra. Em destaque (e isso é o que importa), uma grande faixa que anuncia a próxima sessão de descarrego. “Livre-se das feitiçarias”. Pobres meninos. Pobre igreja. Eles bem que poderiam anunciar a próxima sessão de ajuda ao próximo.

Depois de tanto trabalho para se livrar dos problemas invisíveis, as pessoas estão esquecendo que o mundo real, esse sim, existe, e está cada vez pior, mais injusto. Mas, para esse, apenas fechamos os olhos e esperamos que tudo passe.

2 comentários:

  1. Pois é... Acrescente a isso o fato que essas mesmas pessoas que passam e não vêem se sentem cada vez mais insatisfeitas e cada vez mais vazias...
    Não sabem também como encontrar a felicidade... Não sabem o que fazer também. Procuram em academias, em roupas de marca, em baladas, em viagens, etc...
    Pobres meninos pobres. Pobre igreja. Pobre de todos nós...

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  2. Parece que o individualismo e a competição evolucionista ainda está muito presente. Está faltando em nossa sociedade a noção de cooperação, que acredita-se facilitou a nossa evolução. Ótimo trabalho!!

    Dagoberto

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